Por Luis Nassif
Quando o MEC (Ministério da Educação) lançou o programa de educação
inclusiva em 2007, previu novo papel para as APAEs (Associação dos Pais e
Amigos dos Excepcionais). Em lugar de segregar os alunos em escolas
especiais, auxiliá-los a se integrar na rede pública. Com isso,
alinhavava-se com todas as linhas pedagógicas modernas, que constataram o
enorme avanço das crianças com deficiência, quando colocadas desde cedo
em condições de conviver com colegas sem deficiência.
Imediatamente, a APAE São Paulo aderiu ao novo projeto. Desativou sua
escola especial e passou a apoiar os alunos na rede escolar. O número
de atendidos saltou de oitenta e poucos para mais de 400.
Financeiramente, não houve perdas. Sem o custo de manter estrutura
própria, todos os recursos puderam ser direcionados para o objetivo
final, o atendimentos dos alunos, atuando no chamado contraturno.
Perdeu-se o poder sobre verbas que ficavam apenas na atividade-meio. É
evidente que a capacidade de definir despesas é o que garante o poder de
qualquer instituição. Para APAEs sérias, como a de São Paulo, não foi
problema.
De início, havia preocupação em não desempregar as professoras. O
receio acabou quando conferiram a situação funcional delas: todas eram
professoras concursadas cedidas pelo município à APAE. Como ocorre na
maior parte das APAEs.
Mesmo sendo uma instituição exemplar, a APAE-SP só aceitava em sua
escola especial alunos “moderados” e “treináveis”, conforme acaba de me
relatar a educadora contratada para coordenar a transição. Recusava
considerados de deficiência “severa”. Essa política é legitima, mas
desmente o bordão da Federação das APAEs, de que só elas teriam
condições de atender a alunos com deficiencia mais avançada.
A saga das APAEs e de outras filantrópicas – como a Teleton [AACD],
que monopoliza toda a entrega de órteses e próteses do SUS em São Paulo –
surgiu em um período de ausência de políticas públicas. Quando
finalmente o Estado se compenetrou de suas obrigações e entendeu que
caberia a ele preparar a rede pública para receber os alunos com
deficiência, houve enorme avanço social. Mas enorme resistência de parte
da Federação das APAEs, para não perder protagonismo, relevância
política.
Agora há pouco conversava com o Ministro da Educação Aloizio
Mercadante no evento do Dia da Consciência Negra. Ele mostrava o enorme
salto de inclusão de pessoas com deficiência tanto na rede básica quanto
no ensino superior, depois que o MEC, a partir de 2007, deu início à
sua política de educação inclusiva.
De certo modo, a diferença do velho para o novo modelo é similar ao
das políticas sociais pontuais de dona Ruth – Bolsa Escola – para as
políticas universalizantes e sistêmicas do Bolsa Família.
Hoje em dia, no entanto, a maior ameaça à política de educação inclusiva do MEC é o senador petista Paulo Paim (RS).
Ele é o autor do Estatuto da Pessoa Com Deficiência, em tramitação no
Senado, que atropela todos os princípios da educação inclusiva, ao
abolir a obrigatoriedade do ensino na rede regular. Na discussão da Meta
4 do PNE (Plano Nacional de Educação), é autor de emenda para que se
abra mão da obrigatoriedade da educação inclusive no ensino público.
Se não houver uma ação firme por parte do governo Dilma, os
interesses paroquiais de Paim, da Ministra-Chefe da Casa Civil Gleisi
Hoffmann e da Ministra-Chefe da Secretaria de Direitos Humanos Maria do
Rosário comprometerão um dos grandes feitos civilizatórios do próprio
governo petista.
Fonte: Luis Nassif Online
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