Acerte o seu relógio

domingo, 18 de maio de 2014

Desafio: o autista na sala de aula regular A diretriz governamental de incluir o autismo no sistema de ensino esbarra no despreparo e desconhecimento

As recentes diretrizes para educação especial no País têm ratificado o caminho da alfabetização do aluno autista na sala de aula de ensino regular, desafio que multiplica a relação professor-aluno-portador de transtorno no já fragmentado e deficiente sistema educacional do País. O desafio não é somente de natureza pedagógica, mas tem raízes humanas e psicossociais.
Para especialistas, educadores e profissionais que lidam com o autismo e a alfabetização em Bauru, os diferentes níveis de autismo podem permitir, com exceção para os casos severos, evolução nos processos de aprendizagem. Contudo, o despreparo, a ausência de conscientização e compreensão sobre o mundo particular do autista, aliado às carências das escolas, põem em risco o futuro dos portadores do distúrbio sem cura.            
A consequência da diretriz é a crescente redução da participação de instituições especializadas no trato com pacientes do segmento, como a Apae Bauru. Para especialistas da entidade, o autista apresenta déficits e excessos comportamentais que exigem atuação individualizada, específica, abordagens dificilmente alcançadas no cotidiano do ensino regular.    
Incluir ou não a criança autista na escola regular é uma decisão que merece muitos debates, aponta o estudo que se debruçou sobre a integração do autista exatamente na chamada “escola comum”, de autoria das pedagogas Marilene de Oliveira Milagre e Wagna da Silva Souza. O trabalho, de 2011, foi de conclusão do programa de graduação em pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira. 
No estudo, elas definem: “o indivíduo autista, não abraça, não pede colo, nem proteção quando se magoa, evita manter o contato físico e visual e permanece indiferente das pessoas que o cercam”.
Porém, este mesmo cidadão com síndrome sem cura pode dar respostas excepcionais para o desenvolvimento e o aprendizado. “O autista não deve ser visto como alguém que não aprende, mas sim, como uma pessoa que têm formas diferentes para alcançar este aprendizado”, conclui o estudo.
Outro desafio da escola regular na inclusão de autistas é a heterogeneidade dos pacientes e de suas necessidades e competências. Cada caso exige adequação específica e muito concreta das estratégias e objetivos de tratamento. Os objetivos e procedimentos terapêuticos e educacionais são variáveis e singulares, o que também depreende comprometimento da pessoa, nas suas diferentes dimensões.
“As escolas ainda não estão preparadas para receber esses alunos nos níveis de suas necessidades especiais, porque lhes falta adaptação curricular, reformulação de critérios de avaliação e outras estratégias para desempenhar de forma favorável estes indivíduos”, resume o estudo de graduação.
Enquanto a orientação governamental é pela inclusão do autista no ensino regular, a resistência dos pais em aceitar o distúrbio e a demora no diagnóstico médico para o enfrentamento dos casos trazem prejuízos ao portador.
De outro lado, a fragilidade na compreensão do quadro e os ruídos no relacionamento entre escola e pais geram litígios. Em Bauru, o caso do adolescente Pedro Paullo de Castro, ainda está pendente no Judiciário.
O pai, Paulo de Castro Moreira, reclama no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ) consequência ao colégio particular que expulsou Pedro da unidade após ocorrência de agressão a dois professores pelo garoto que sofre da Síndrome de Asperger (onde o autismo se apresenta em geral com crianças com bom nível de inteligência).    


Sem receita pronta, a inclusão é individual

Luci de Paula realiza atendimento especializado em educação especial pela Apae. Para a profissional formada em fonoaudiologia é preciso considerar três elementos para dar suporte adequado ao autista: a alteração de comportamento, a linguagem e a interação social.
Mas a profissional adverte: “não existe receita pronta. Cada abordagem tem de ser individual, com cada indivíduo e de forma detalhada”. Para tanto, a orientadora da Apae considera que a tríade da ação pelo autismo exige equipe multidisciplinar.
Sobre a possibilidade de inclusão do portador do transtorno na escola regular, ela posiciona: “O autismo severo é de difícil condução inclusive no sistema especializado, realidade muito distante da escola regular”.
A secretária de Educação, Vera Casério, reconhece a especificidade. “Em alguns casos a Apae chega a ter um professor especialista para um único aluno em uma sala”, diz.
De outro lado, Luci sentencia que o autista é capaz de aprender. “O ensino regular exige capacitar o profissional para que ele considere o universo das diferenças para o autista e a capacidade de identificação da forma como o autista compreende e vê o mundo à sua volta. Sem compreender a linguagem do autismo a relação não avança”.
Por essa razão, a especialista acrescenta que “em uma sala de aula com 40 alunos o estímulo específico e individual do autista não é possível de ser realizado na plenitude. É preciso o atendimento individual, uma realidade muito distante das escolas”.
Assim, Luci considera que a inclusão escolar do autista deve levar em conta o grau da síndrome, as diferentes estratégias para atuação com cada caso e a percepção, pelos pais, de que o caminho no desenvolvimento de seu filho é longo e permanente. “A resistência dos pais em aceitar a síndrome tem gerado muitos prejuízos, pelo retardo no início das abordagens”, finaliza.       


Expulsão de adolescente revolta pai

Paulo de Castro Moreira não se conforma com a expulsão do adolescente Pedro Paullo de Castro por um colégio particular de Bauru, no ano passado.
Segundo o processo apresentado pelo pai ao JC, com ação em tramitação no Tribunal de Justiça (TJ), Pedro não apresentou dificuldades no desenvolvimento até a sexta série. Na sétima série, entretanto, em razão de uma sequência de desentendimentos e de reações do garoto no relacionamento em sala de aula, o garoto foi expulso após agressão a dois professores.
O pai contesta, diz que houve despreparo da unidade e negligência na condução das mudanças de rotina no ano passado e quer punição do estabelecimento pela expulsão sumária e, também, pela perda do ano letivo do menino.
Após o caso ser discutido no Ministério Público local, Pedro conseguiu se matricular em uma unidade da rede pública local (escola Santa Maria). “Ele está indo muito bem lá, se desenvolvendo muito bem. Ele é muito inteligente e começou a contestar a realização de tarefas que já sabia. E quem lidou com ele na escola ignorou esses sinais. Fui várias vezes à escola discutir isso. A agressão é produto de uma série de erros e a expulsão injusta e prejudicial a meu filho”, protesta o pai, que também foi professor e deu aula para aluno autista.
Pedro tem diagnóstico da Síndrome de Asperger, considerada moderada e que não interfere em níveis de inteligência. Ao contrário, o portador desse tipo de transtorno tende a ter inteligência acima da média. O craque Leonel Messi, jogador argentino que atua pelo Barcelona da Espanha, tem o mesmo diagnóstico que o garoto Pedro.
“O autista não agride, mas responde de forma severa, dura, se sua rotina for modificada sem explicação. O autista tem opinião própria e não arreda o pé. O Pedro é excelente para interpretar textos e é bom de matemática. Bastou ser ignorado por uma professora e reagido a mudanças de rotina que a escola se omitiu e o expulsou, ao invés de solucionar o caso”, completa o pai. O colégio foi contatado, mas não quis falar a respeito do caso que encontra-se no TJ atualmente.

sábado, 10 de maio de 2014

ENEM x TDAH

As inscrições para o ENEM estão chegando. Alunos com TDAH podem solicitar auxílio extra (leitor) e mais tempo para fazer as provas. Vale lembrar que é preciso comprovar, com laudos médicos as necessidades especiais, ou seja, lembre-se de explicar ao médico que além laudo de TDAH, é necessário que ele descreva a necessidade específica do adolescente (tempo a mais para fazer a prova, leitor,etc.)

sábado, 3 de maio de 2014

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE


TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
O que é?
A hiperatividade e déficit de atenção é um problema mais comumente visto em crianças e se baseia nos sintomas de desatenção (pessoa muito distraída) e hiperatividade (pessoa muito ativa, por vezes agitada, bem além do comum). Tais aspectos são normalmente encontrados em pessoas sem o problema, mas para haver o diagnóstico desse transtorno a falta de atenção e a hiperatividade devem interferir significativamente na vida e no desenvolvimento normais da criança ou do adulto.
Quem apresenta?
Estima-se que cerca de 3 a 6% das crianças na idade escolar (mais ou menos de 6 a 12 anos de idade) apresentem hiperatividade e/ou déficit de atenção. O diagnóstico antes dos quatro ou cinco anos raramente é feito, pois o comportamento das crianças nessa idade é muito variável, e a atenção não é tão exigida quanto de crianças maiores. Mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o transtorno numa idade bem precoce. Aproximadamente 60% dos pacientes que apresentaram TDAH na infância permanecem com sintomas na idade adulta, embora que em menor grau de intensidade. Na infância, o transtorno é mais comum em meninos e predominam os sintomas de hiperatividade. Com o passar dos anos, os sintomas de hiperatividade tendem a diminuir, permanecendo mais freqüentemente a desatenção, e diminuindo a proporção homem x mulher, que passa a ser de um para um.
Como se desenvolve?
Geralmente o problema é mais notado quando a criança inicia atividades de aprendizado na escola, pelos professores das séries iniciais, quando o ajustamento à escola mostra-se comprometido. Durante o início da adolescência o quadro geralmente mantém-se o mesmo, com problemas predominantemente escolares, mas no final da adolescência e início da vida adulta o transtorno pode acompanhar-se de problemas de conduta (mau comportamento) e problemas de trabalho e de relacionamentos com outras pessoas. Porém, no final da adolescência e início da vida adulta ocorre melhora global dos sintomas, principalmente da hiperatividade, o que permite que muitos pacientes adultos não necessitem mais realizar tratamento medicamentoso para os sintomas.
O que causa?
Os estudos mais recentes apontam para a genética como principal causa relacionada ao transtorno. Aproximadamente 75% das chances de alguém desenvolver ou não o TDAH são herdadas dos pais. Além da genética, situações externas como o fumo durante a gestação também parecem estar relacionados com o transtorno. Fatores orgânicos como atrasado no amadurecimento de determinadas áreas cerebrais, e alterações em alguns de seus circuitos estão atualmente relacionados com o aparecimento dos sintomas. Supõe-se que todos esses fatores formem uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando a pessoa é submetida a um nível maior de exigência de concentração e desempenho. Além disso, a exposição a eventos psicológicos estressantes, como uma perturbação no equilíbrio familiar, ou outros fatores geradores de ansiedade, podem agir como desencadeadores ou mantenedores dos sintomas.
Como se manifesta?
Podemos ter três grupos de crianças (e também adultos) com este problema. Um primeiro grupo apresenta predomínio de desatenção, outro tem predomínio de hiperatividade/impulsividade e o terceiro apresenta ambos, desatenção e hiperatividade. É muito importante termos em mente que um "certo grau" de desatenção e hiperatividade ocorre normalmente nas pessoas, e nem por isso elas têm o transtorno. Para dizer que a pessoa tem realmente esse problema, a desatenção e/ou a hiperatividade têm que ocorrer de tal forma a interferir no relacionamento social do indivíduo, na sua vida escolar ou no seu trabalho. Além disso, os sintomas têm que ocorrer necessariamente na escola (ou no trabalho, no caso de adultos) e também em casa. Por exemplo , uma criança que "apronta todas" em casa, mas na escola se comporta bem, muito provavelmente não tem hiperatividade. O que pode estar havendo é uma falta de limites (na educação) em casa. Na escola, responde à colocação de limites, comportando-se adequadamente em sala de aula.
No adulto, para se ter esse diagnóstico, é preciso uma investigação que mostre que ele já apresentava os sintomas antes dos 7 anos de idade.
Quais são os sintomas da pessoa com desatenção?
Uma pessoa apresenta desatenção, a ponto de ser considerado como transtorno de déficit de atenção, quando tem a maioria dos seguintes sintomas ocorrendo a maior parte do tempo em suas atividades:
 
freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras;
com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades recreativas;
com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais, não chegando ao final das tarefas;
freqüentemente tem dificuldade na organização de suas tarefas e atividades;
com freqüência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);
freqüentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa principal que está executando;
com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias;
Quais são os sintomas da pessoa com hiperatividade?
Uma pessoa pode apresentar o transtorno de hiperatividade quando a maioria dos seguintes sintomas torna-se uma ocorrência constante em sua vida:
 
freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;
com freqüência abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriado (em adolescentes e adultos, isso pode não ocorrer, mas a pessoa deixa nos outros uma sensação de constante inquietação);
com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;
está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor";
freqüentemente fala em demasia.
Além dos sintomas anteriores referentes ao excesso de atividade em pessoas com hiperatividade, podem ocorrer outros sintomas relacionados ao que se chama impulsividade, a qual estaria relacionada aos seguintes aspectos:
 
freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez;
freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intrometendo-se em conversas ou brincadeiras de colegas).
Importância de tratamento médico para os portadores do transtorno.
São vários os motivos que mostram ser de grande importância médica fazer o diagnóstico e se tratar a criança (ou o adulto) com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Primeiro, é importante se fazer o tratamento desse transtorno para que a criança não cresça estigmatizada como o "bagunceiro da turma" ou como ou "vagabundo", ou como o "terror dos professores".
Segundo, para que a criança não fique durante anos com o desenvolvimento prejudicado na escola e na sua vida social, atrasado em relação aos outros colegas numa sociedade cada vez mais competitiva.
Terceiro, é importante fazer um tratamento do transtorno para se tentar minimizar conseqüências futuras do problema, como a propensão ao uso de drogas (o que é relativamente freqüente em adolescentes e adultos com o problema), transtorno do humor (depressão, principalmente) e transtorno de conduta.
Como se diagnostica?
O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde capacitado, geralmente neurologista, pediatra ou psiquiatra. O diagnóstico pode ser auxiliado por alguns testes psicológicos ou neuropsicológicos, principalmente em casos duvidosos, como em adultos, mas mesmo em crianças, para o acompanhamento adequado do tratamento.
Como se trata?
O tratamento envolve o uso de medicação, geralmente algum psico-estimulante específico para o sistema nervoso central, uso de alguns antidepressivos ou outras medicações. Deve haver um acompanhamento do progresso da terapia, através da família e da escola. Além do tratamento medicamentoso, uma psicoterapia deve ser mantida, na maioria dos casos, pela necessidade de atenção à criança (ou adulto) devido à mudança de comportamento que deve ocorrer com a melhora dos sintomas, por causa do aconselhamento que se deve fazer aos pais e para tratamento de qualquer problema específico do desenvolvimento que possa estar associado.
Um aspecto fundamental desse tratamento é o acompanhamento da criança, de sua família e de seus professores, pois é preciso auxílio para que a criança possa reestruturar seu ambiente, reduzindo sua ansiedade. Uma exigência quase universal consiste em ajudar os pais a reconhecerem que a permissividade não é útil para a criança, mas que utilizando um modelo claro e previsível de recompensas e punições, baseado em terapias comportamentais, o desenvolvimento da criança pode ser melhor acompanhado.